Catalogar pra quê? Entendendo a importância da representação descritiva na Biblioteconomia.
outubro 18, 2025Um livro muito popular sobre catalogação dentro da área da Biblioteconomia é “Não brigue com a catalogação”, da Eliane Mey. No 2º período da graduação em Biblioteconomia na UFF, temos a disciplina Instrumentos de Representação Descritiva (IRDI), lecionada pelo professor Vinícius Tolentino (UniRio) e pela tutora Patrícia Gross. Sempre que um deles citava esse livro, eu pensava:
Toda a turma estava cheia de expectativas, já que essa é uma das matérias em que começamos a ver a Biblioteconomia mais na prática. Nela, aprendemos sobre catalogação, os objetivos do catálogo e um pouco do histórico dessa prática.
Um dos primeiros registros de catalogação vem dos Pinakes (tábuas), um catálogo elaborado por Calímaco, no século III a.C., considerado um dos primeiros instrumentos de representação da informação. Esse catálogo listava autores em ordem alfabética e trazia breves biografias sobre cada um.
Durante a Idade Média, as bibliotecas estavam ligadas às ordens religiosas. Cada mosteiro mantinha seu próprio sistema de organização. Nessa época, os códices — manuscritos escritos em blocos de madeira (daí o termo latino codex, “livro” ou “bloco de madeira”) — substituíram os antigos pergaminhos.
Do século XV ao XVIII, com o advento da imprensa, a catalogação avançou muito. Surgiram exemplos como o catálogo de Amplonius Ratink, elaborado em 1410 e 1412 em Burca, e a bibliografia de Johan Tritheim, organizada de forma cronológica.
No século XVI, o bibliógrafo Konrad Gessner produziu uma obra fundamental, e em 1595 o livreiro inglês Andrew Maunsell organizou seu catálogo com base nos sobrenomes dos autores.
A partir do século XIX, surgem os grandes nomes da catalogação moderna.
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Em 1839, Antonio Panizzi elaborou 91 regras para o British Museum, que até hoje é uma das maiores bibliotecas do mundo. (Panizzi valorizava a folha de rosto. Alguns casos a capa não contemplava todas as informações)
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Em 1850, Charles Coffin Jewett criou 33 regras de catalogação, com atenção especial a obras sob pseudônimo e autoria coletiva.
- Já em 1876, Charles Ammi Cutter publicou seu famoso livro de regras, com 369 normas e a formulação dos objetivos do catálogo. (Teórico do século XVIII que entendia que a representação tem que atender a demanda do usuário)
- Mais tarde, em 1895, Paul Otlet e Henri La Fontaine fundaram o Instituto Internacional de Bibliografia, hoje conhecido como Federação Internacional de Bibliotecas e Associações de Bibliotecários (IFLA). Foi um passo essencial para o ideal do Controle Bibliográfico Universal (CDU).
Apesar desses avanços, o Brasil nunca teve um código nacional de catalogação. Um dos primeiros a ser usado por aqui foi o Código da Vaticana, amplamente aceito à época.
O Código da Vaticana baseou-se no Código da ALA (American Library Association) de 1908. Ele é dividido em quatro partes, abordando regras para entradas e catalogação descritiva, além de regras relativas à redação de cabeçalhos de assunto e arquivamento de fichas, o que o diferenciava de outros códigos. Exerceu grande influência na biblioteconomia brasileira a partir de 1940, sendo adotado por inúmeras bibliotecas. Ele foi traduzido para o português em duas edições, publicadas em 1949 e 1962. (BARBOSA, 1979, p. 40 apud ALBUQUERQUE, 2018, p. 35)
Em 1969, o AACR (Código de Catalogação Anglo-Americano) foi editado no Brasil, e em 1978 ganhou sua segunda edição, o AACR2, que passou a ser adotado em todas as escolas de Biblioteconomia e ajudou a extinguir a diversidade de códigos de ensino.
Um catálogo cumpre bem sua função quando apresenta:
- 01. Integridade: fidelidade e honestidade na representação.
- 02. Clareza: deve ser compreensível para o usuário.
- 03. Precisão: cada informação deve responder a um dado específico.
- 04. Lógica: as informações precisam estar organizadas de forma coerente.
- 05. Consistência: a mesma solução deve ser usada para informações semelhantes.
Beijas,
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