Da informação à comunicação: fundamentos da biblioteconomia

setembro 11, 2025


Você já parou para pensar no que é, de fato, informação? Parece simples, afinal, ela está em tudo, em todo lugar, o tempo todo: do artigo científico ao encarte de supermercado. Apesar de sua onipresença, defini-la não é tão simples assim. O termo, em si, não apresenta um significado único que sirva para tudo; é polissêmico, ou seja, seu significado varia dependendo da área, de quem o produz e até mesmo de quem o recebe. Informação é uma das bases sobre as quais a Biblioteconomia se constrói. Por isso, entendê-la é essencial para que possamos transmiti-la com o mínimo de ruído possível — informação e comunicação andam juntinhas.

Informação, Comunicação e Documento é uma das disciplinas do 2º período, mais uma daquelas que nos fazem enxergar como as coisas funcionam. Nela, aprendemos os principais conceitos de informação e comunicação, como essas áreas se relacionam e os desafios que surgem nesse processo. São conceitos que usamos todos os dias, mas que raramente paramos para pensar em como funcionam. Para Araújo:

"A informação constitui-se em dados trabalhados, processados, os quais pretendem atingir determinado propósito. Já, a comunicação, trata do processo de transmissão da informação entre os agentes envolvidos (emissor e receptor da mensagem) [...] Ou seja, não há informação se essa não for comunicada adequadamente. Comunicar uma informação significa perceber que o destinatário da mensagem entendeu a mensagem com a mesma fidelidade que o emissor o fez." (ARAÚJO, 2018, p. 16). 

Começamos a unidade revisitando a já conhecida Teoria Matemática da Informação (TMI) — vista de forma introdutória em Tecnologias da Informação e Comunicação. Essa teoria, desenvolvida pelos matemáticos Claude Elwood Shannon e Warren Weaver, tinha como objetivo solucionar problemas de otimização no custo da transmissão de sinais.

Segundo os autores, a comunicação envolve três níveis de problemas:

01. Técnicos: ligados ao transporte físico da mensagem;
02. Semânticos: relacionados à atribuição de significados;
03. Pragmáticos: referentes à eficácia da comunicação.

Após as definições mais técnicas, os significado de informação e comunicação são aprofundados. A partir dos paradigmas de Capurro, apresentados por Araújo, o autor explica que:

“Para um dado (matéria-prima da informação) se tornar informação, ele precisa ter significado e, para isso, estar subordinado ao contexto específico de sua criação [...]” (ARAÚJO, 2018, p. 21).
 
Essa definição evidencia que dado, informação e conhecimento não são a mesma coisa, ainda que se complementem. O dado é apenas um registro bruto; a informação surge quando esse registro adquire sentido dentro de um contexto; o conhecimento, por sua vez, corresponde à capacidade de reter e elaborar a informação, transformando-a em compreensão. Embora apresente diferentes conceitos, Araújo decide aprofundar especialmente a perspectiva de Capurro.

Rafael Capurro reconhece a existência de três paradigmas da informação, são eles:

01. PARADIGMA FÍSICO: está associado à transmissão de sinais em um contexto comunicacional entre emissor e receptor. (bem ligado a TMI)
  • foco: como a informação é transmitida.
  • ideia central: comunicação é um processo técnico de envio de sinais (mensagens, dados) entre emissor e receptor.
  • exemplo: quando você envia um e-mail, o paradigma físico se preocupa com a entrega da mensagem — o servidor, o sinal, a rede, se o e-mail chegou corretamente ao destinatário.
  • palavra-chave: transmissão / técnico.

02. PARADIGMA COGNITIVO: associado à busca de informações por parte dos sujeitos, incluindo os processos de recuperação de informação.
  • foco: como o sujeito busca, processa e entende informação.
  • ideia central: informação não é só transmitida, ela precisa ser interpretada e compreendida. O paradigma cognitivo trata da recuperação de informação, como usamos bibliotecas, bancos de dados e motores de busca para encontrar o que precisamos.
  • exemplo: procurar um artigo científico em uma base de dados ou organizar suas anotações para estudar.
  • palavra-chave: interpretação / pessoa.

03. PARADIGMA SOCIAL: considera o sujeito no contexto social, portanto, estudos de informação não deveriam estar desvinculados de seu tempo.
  • foco: o contexto social e cultural do sujeito.
  • ideia central: informação e comunicação não existem isoladamente; sempre estão ligadas ao contexto social, histórico e cultural.
  • exemplo: uma notícia sobre política pode ser interpretada de formas diferentes dependendo do país, da comunidade ou do grupo social. Também indica que estudos sobre informação devem considerar quem recebe a informação e em que contexto.
  • palavra-chave: contexto social / ambiente.

💡 resumindo de forma bem rápida:

• físico: a mensagem chega? 
• cognitivo: o receptor entende e processa? 
• social: o contexto influencia a interpretação e o uso da informação?

Entendendo os fundamentos inicias, agora partimos de maneira mais direta para a comunicação e seus aspectos relevantes para a área de Biblioteconomia. 

Le Coadic (2004, p. 11) define comunicação como "[...] o processo intermediário que permite a troca de informações entre as pessoas." Ou seja, é um processo dinâmico, que está em constante movimento e que leva em consideração ambientes e contextos. É importante entender isso porque, o que comunicamos, pode ser interpretado de maneira diferente, por conta do contexto (seja ele social, geográfico, econômico ou cultural). 

Não podemos esquecer também dos canais (que vão ser os caminhos que a comunicação e a informação farão), segundo Targino (2000), os canais são divididos tradicionalmente em: formais e informais

> CANAIS FORMAIS:
São mais oficias e estruturados.
  • publico potencialmente grande
  • Informação armazenada e recuperável
  • Informação relativamente antiga
  • Direção do fluxo selecionada pelo usuário
  • Redundância moderada
  • Avaliação prévia
  • Feedback Irrisório para o Autor
> CANAIS INFORMAIS:
São mais soltos e espontâneos. 
  • Público restrito
  • Informação não armazenada e não recuperável
  • Informação recente
  • Direção do fluxo selecionada pelo autor
  • Sem avaliação prévia
  • Feedback significativo para o autor
Para Targino (2000, p. 19):
"Os sistemas formal e informal servem a fins distintos quanto à operacionalização das pesquisas. Ambos são indispensáveis à comunicabilidade da produção científica, mas são utilizados em momentos diversos e obedecem a cronologias diferenciadas."

O próximo capítulo dessa história vamos aprender mais sobre as barreiras na comunicação da informação e os problemas inerentes. 

📚 Para saber mais: 

ARAÚJO, André Vieira de Freitas. Informação, comunicação e documento. Brasília, DF: CAPES: UAB; Rio de Janeiro, RJ: Departamento de Biblioteconomia, FAAC/UFRJ, 2018.

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